Saturday 17 October 2009

"in-between" Europe and Asia...drama hospitalar (episódio 2)

A vida prega-nos cada partida, é impressionante...
Desta vez fui parar a um hospital às 2 da manhã, fiquei lá 3 dias...só saí quando já não tinha apêndice e estava estável.

Apesar de não ter estado 100% bem durante o dia, fui passear em Tbilisi com o gang americano, ver os sítios turísticos.
Passámos nos banhos de súlfur que o Pushkin disse terem sido os melhores da vida dele...o plano era ir no dia seguinte. (Eles talvez tenham ido, eu não fui de todo)
Fomos à mesquita e entrámos! Uma mesquita onde Shiitas e Sunitas oram juntos!!! Em comunhão!!! Fantástico, o mundo pode ser um lugar perfeito. E nós todos, não-crentes, pudémos entrar na mesquita mais antiga da Geórgia.
À noite, depois de um jantar hiper saudável - Borscht, uma sopa ucraniana - comecei a sentir-me mal, mal, mal...estávamos num restaurante lindo, a Evelyne ia embora às 2 da manhã, mas eu não estava a aguentar. Então mudei a festa para outra zona porque tive de ir para o hotel. Eles queridos, vieram comigo até ao hotel.

Mas não comam em caso de não estarem 100%!!!

Bom, depois de 1 Ben-U-Ron 1G (passo a publicidade, não fez absolutamente efeito nenhum), 4 horas de suplício, decidi que tinha de ir ao hospital. Os paramédicos vieram ao hotel, depois levaram-me numa ambulância para o hospital porque eu tinha de fazer mais análises...ai que dor, os buracos da estrada, tipo war zone, que horror...

Quando cheguei ao hospital...que susto: empoeirado, vazio, com um aspecto paupérrimo, de fugir. Um médico observou-me. Não falava nada de inglês. Acendeu um cigarro dentro daquela salita e eu saí...ele percebeu que não tolerava o tabaco. Pelo meu estado, poderia ser apêndice. Análise ao sangue: muitos leucócitos.

Mas como nós não conseguíamos comunicar, ele esperou que viesse um médico que falasse inglês. Portanto, estava decidido: eu ia passar a noite no hospital.

Mudaram-me para um quarto. Finalmente umas horas mais tarde apareceu a Ana, a Magda e o Shaheen Merali que, acabado de chegar à Geórgia nem foi ao hotel, foi logo para o hospital. Ficou lá 3 dias também, Deus o tenha, que fez-me companhia, fez-me rir (embora rir doesse horrores) e deu-me de comer na boca.

O quarto era assustador: duas camas de ferro com colchões de molas partidos, muito muito simples, muito antigos. Pelas fotografias, pode ter-se uma ideia. Tive direito a visita de uma senhora em substituição do ministro da cultura, por causa do festival de arte.


Os médicos disseram-me: vamos repetir todos os exames, se for apêndice, és operada às 17h.
Eram 11 lá, 8 em Portugal. Telefonei ao meu tio - que é cirurgião, e dos bons - e disse-lhe que os médicos possivelmente me iriam fazer uma laparoscopia.

"Ah mas estás num hospital muito bom!", disse-me o meu tio. "Aqui em Portugal quase nenhum hospital te faz isso". "Como se chama o hospital?", "laparoscopia é uma intervenção muito sofisticada", continuava ele. Eu fiquei espantada; o meu tio ter uma reacção destas. E fui toda tranquila para a operação.


Portanto, nunca se esqueçam: por mais pobre que pareça uma clínica, por muito que as enfermeiras fossem brutas, por muito que entrassem sem bater à porta e achassem normal fumar ao pé de um doente, por muito que a senhora da limpeza fosse velha, com aspecto de bruxa e cada vez que me limpava o chão parecia que espalhava ainda mais vermes de tão suja a vassoura que trazia, por muito que as condições pareçam precárias porque de tanto tempo deitada já me doía o corpo, o que importa é que haja quem nos trate e nos acompanhe.
Mais importante que a aparência é o conhecimento.


Voltei com um CD e tudo, a intervenção foi filmada dentro da pele.
E tenho um souvenir da Geórgia, como dizia a minha amiga Jennifer de Casterlé, uma cicatriz que me vai acompanhar até ao fim da vida.


Escrevi um mail ao médico a dizer que estou muito melhor; ele respondeu feliz.
Sempre fui a única portuguesa que tratou :)
E assim, graças a uma intervenção ultra-moderna, pouco invasiva, estou em Istambul com a turma do Mestrado a ver a Bienal de Arte deste ano.

Salaam, noor

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