Thursday 29 October 2009

"in-between" Europe and Asia: Jerusalém, Cidade Sagrada (episódio 4)

Já estou de volta à nossa linda cidade e vou começar a escrever sobre Jerusalém, Israel e Palestina. Tirei muitos apontamentos nesta parte da viagem.
Começo por dizer que não há uma Jerusalém, mas várias: a dos peregrinos, a dos turistas, a dos israelitas, a dos palestinianos, a das ordens religiosas e talvez mais que não identifiquei.
Esta cidade bíblica é mesmo muito muito bonita, toda construída de pedra, muito harmoniosa, e pequenina.
E é uma cidade com tanta História que nos sentimos a andar milhares de anos para trás.
A cidade de Jerusalém que os turistas frequentam é a Jerusalém Oriental; é esta parte que contém todos os lugares sagrados que as várias religiões dividem entre si.


Dentro da muralha - que tem 7 portas - está uma cidade dividida em quartos: o Judeu, o Muçulmano, o Católico e o Arménio. Arménio? Pois, parece que eles foram dos primeiros a lá chegar e são também eles cristãos. Eu não tinha ideia que o Cristianismo fosse tão dividido, tão díficil de entender.
Jerusalém é uma cidade de peregrinação para cristãos, mas também para os muçulmanos. Para eles, é a 3ª cidade e a Mesquita Al-Aqsa é considerada a 3ª mais importante.
Ali encontramos o famoso Muro das Lamentações, o famoso Monte das Oliveiras (sagrado para Judeus e Católicos) e o vale entre a cidade e o próprio monte (este sagrado para os Muçulmanos)...uffa!
Também encontramos a Igreja do Santo Sepulcro, onde se crê Jesus ressuscitou ao 3º dia (o Domingo de Páscoa), as 14 etapas do caminho de dor e sofrimento que Jesus fez dentro da cidade, percorrendo as ruas do mercado carregando a cruz...é emocionante.

Se fizermos a descer, não sentimos, mas se fizermos desde o princípio a subir, então sentimos que é duro. Agora imaginem com uma cruz enorme às costas...

É uma grande ginástica mental perceber isto tudo em poucos dias, ou enquanto vamos visitar a cidade com uma visita guiada. Ajuda muito seguir um guia que nos fala do Período Romano, Otomano, Hebraico, das cruzadas e de tantos outros factos históricos. Mas é bom esforçar-nos por aprender a história desta cidade.
Uma coisa que gostei de saber foi o porquê do Muro das Lamentações.
É o único vestígio físico de um Templo Judeu contruído por Heródes. O templo foi destruído e entretanto os cristãos construíram um exactamente no mesmo lugar. Este templo também foi destruído em cerca de 70 da nossa era pelos romanos.
Depois para complicar: vieram os muçulmanos e construíram o seu templo sagrado por cima das ruínas abandonadas.
Por isso é que os judeus rezam na parede, porque os muçulmanos lhes deram permissão de rezar só na parte exterior, já que a parede interior faz parte do recinto das mesquitas.
É interessante que em Jerusalém estas religiões sempre conviveram; hoje em dia aquilo que Deus uniu está muito dividido pela política. Mas há coisas que não mudam: quem continua a ter o encargo de guardar a chave da igreja do Santo Sepulcro e de a abrir e fechar diariamente são os muçulmanos também. Isto porque os Judeus, Católicos Romanos e Cristãos Ortodoxos não se entendiam em quem a devia conservar. Esta igreja é, lá dentro, um puzzle de credos. E como os Muçulmanos não se sentem envolvidos...fantástico.

Menos fantástico é um facto recente: o Shabat, que é o fim de semana judeu, é à 6a e sábado. Para os muçulmanos 6ª é o dia sagrado. Eles antes iam rezar a estas mesquitas. Hoje em dia estão fechadas pelo governo israelita, rodeadas de soldados armados, com detectores de metais, enfim...caminhamos para trás. Por isso não as vi, tive mesmo muita pena de ter perdido um santuário desta importância.

Um poeta israelita que não apanhei o nome dizia que a cidade de Jerusalém era unida pelos seus telhados (panorâmicos) e dividida pelos seus habitantes.
Tenho muitas outras coisas para contar acerca destes lugares... doucement.
Shalom (significa paz em hebraico), noor

Saturday 24 October 2009

noortrips: "in-between" Europe and Asia...Istambul city (episódio 3)

Ainda lá volto, porque vim a Jerusalem via Istambul, mas como tenho tanto que contar desta viagem, hoje começo por me recordar do quanto esta cidade me agradou.
Para já, tem aquilo que eu acho que falta em Lisboa e em todas as cidades da Europa em geral: é exótica.Exotismo é de facto um ingrediente que torna tudo muito mais apimentado, colorido e fascinante, pelo menos para mim.De facto, em Istambul já estamos na Ásia. Que bom!

Depois é uma cidade que tem estilo próprio - whatever that means, apeteceu-me dizer.É uma cidade em que o estilo neoclássico francês se conjuga em total harmonia com o estilo árabe e com o mau gosto que abunda nos países sub-desenvolvidos mas onde há abundância material. Explico: muitos néons (embora eu goste de néons), fachadas das lojas nuns mármores muito muito pirosos, as lojas espelhadas, com letterings prateados...todas estas pirosices lembram Macau, Indonésia...
E as roupas que se vendem? Por muita produção que se faça ali, entre Turquia e China, venha o diabo e escolha... E eles dizem que "Copy but not made in China! Good, made here in Turkey!".As imitações são um óptimo negócio, seja Turco, seja Chinês.
Mas, e grande lição para Lisboa que tem um milhão de habitantes (se tanto): esta cidade tem 13 milhões e é incrivelmente limpa (!!!). Andam sempre de vassorua e pá a limpar as avenidas. No domingo de manhã, as ruas estavam limpas! Em qualquer lugar da Europa as ruas estariam imundas depois de um sábado à noite.
A multiculturalidade e a multi-religiosidade tornam-na uma cidade em que sinceramente adoraria viver. Todos convivem em harmonia, vê-se de tudo. Ora, num país maioritariamente muçulmano em que um católico* se sente tão bem, apetece viver. E acho que a Turquia poderia estar perfeitamente na Comunidade Europeia. Adorei poder entrar nas mesquitas todas que me apeteceu, ah finalmente!
Além desta questão da aceitação das diferenças na sociedade, Istambul tem muito para oferecer em termos de monumentos e o que fazer. Tem demais talvez. Pode ir-se à Ásia só para dizer que lá se esteve; pode ir-se à Europa pela mesma razão. Pode andar-se de barco "in-between", que luxo!
Acho muito interessante as pessoas frequentemente falarem francês. O Professor Fernandes Dias, que nos acompanhou na viagem do Mestrado, explicou que antigamente era chique falar francês e um horror falar turco. Inesperado, mas encantador.
Istambul foi outrora Constantinopla, uma cidade construída à semelhança de Roma da Antiguidade clássica. Foi a capita do Império Romano do Oriente; do Império Bizantino, do Otomano...WOWEm toda a Idade Média foi a cidade mais rica da Europa, conhecida como a "Rainha das Cidades".
Tem inclusivé, uma das mais prestigiadas bienais de arte do mundo, a par de vários museus de arte, de arqueologia fantásticos, basílicas antiquíssimas.
Por acaso o tema da Bienal era extremanente político para o meu gosto pessoal. Mas a arte e a política andam de mãos dadas ou então de costas voltadas...mas vi trabalhos muitos bons. O meu preferido chamava-se East Side Story, era uma imagem do conflito Israelo-Palestiniano. Portanto, foi um bom estágio para o que vi a seguir.
Vi muita violência, segregação social, falta de respeito pelo outro na visita a Israel (ou Palestina, ou ambos?)
Estou neste momento no aeroporto de Tel Aviv e pasmem-se; ouve-se por vezes o autifalante a dizer:

Attention please, carrying guns is prohibited in all terminal hall. Thank you.
Só em Israel, estes tipos são uns malucos. Mas isso fica para amanhã...
Salaam, noor

Saturday 17 October 2009

"in-between" Europe and Asia...drama hospitalar (episódio 2)

A vida prega-nos cada partida, é impressionante...
Desta vez fui parar a um hospital às 2 da manhã, fiquei lá 3 dias...só saí quando já não tinha apêndice e estava estável.

Apesar de não ter estado 100% bem durante o dia, fui passear em Tbilisi com o gang americano, ver os sítios turísticos.
Passámos nos banhos de súlfur que o Pushkin disse terem sido os melhores da vida dele...o plano era ir no dia seguinte. (Eles talvez tenham ido, eu não fui de todo)
Fomos à mesquita e entrámos! Uma mesquita onde Shiitas e Sunitas oram juntos!!! Em comunhão!!! Fantástico, o mundo pode ser um lugar perfeito. E nós todos, não-crentes, pudémos entrar na mesquita mais antiga da Geórgia.
À noite, depois de um jantar hiper saudável - Borscht, uma sopa ucraniana - comecei a sentir-me mal, mal, mal...estávamos num restaurante lindo, a Evelyne ia embora às 2 da manhã, mas eu não estava a aguentar. Então mudei a festa para outra zona porque tive de ir para o hotel. Eles queridos, vieram comigo até ao hotel.

Mas não comam em caso de não estarem 100%!!!

Bom, depois de 1 Ben-U-Ron 1G (passo a publicidade, não fez absolutamente efeito nenhum), 4 horas de suplício, decidi que tinha de ir ao hospital. Os paramédicos vieram ao hotel, depois levaram-me numa ambulância para o hospital porque eu tinha de fazer mais análises...ai que dor, os buracos da estrada, tipo war zone, que horror...

Quando cheguei ao hospital...que susto: empoeirado, vazio, com um aspecto paupérrimo, de fugir. Um médico observou-me. Não falava nada de inglês. Acendeu um cigarro dentro daquela salita e eu saí...ele percebeu que não tolerava o tabaco. Pelo meu estado, poderia ser apêndice. Análise ao sangue: muitos leucócitos.

Mas como nós não conseguíamos comunicar, ele esperou que viesse um médico que falasse inglês. Portanto, estava decidido: eu ia passar a noite no hospital.

Mudaram-me para um quarto. Finalmente umas horas mais tarde apareceu a Ana, a Magda e o Shaheen Merali que, acabado de chegar à Geórgia nem foi ao hotel, foi logo para o hospital. Ficou lá 3 dias também, Deus o tenha, que fez-me companhia, fez-me rir (embora rir doesse horrores) e deu-me de comer na boca.

O quarto era assustador: duas camas de ferro com colchões de molas partidos, muito muito simples, muito antigos. Pelas fotografias, pode ter-se uma ideia. Tive direito a visita de uma senhora em substituição do ministro da cultura, por causa do festival de arte.


Os médicos disseram-me: vamos repetir todos os exames, se for apêndice, és operada às 17h.
Eram 11 lá, 8 em Portugal. Telefonei ao meu tio - que é cirurgião, e dos bons - e disse-lhe que os médicos possivelmente me iriam fazer uma laparoscopia.

"Ah mas estás num hospital muito bom!", disse-me o meu tio. "Aqui em Portugal quase nenhum hospital te faz isso". "Como se chama o hospital?", "laparoscopia é uma intervenção muito sofisticada", continuava ele. Eu fiquei espantada; o meu tio ter uma reacção destas. E fui toda tranquila para a operação.


Portanto, nunca se esqueçam: por mais pobre que pareça uma clínica, por muito que as enfermeiras fossem brutas, por muito que entrassem sem bater à porta e achassem normal fumar ao pé de um doente, por muito que a senhora da limpeza fosse velha, com aspecto de bruxa e cada vez que me limpava o chão parecia que espalhava ainda mais vermes de tão suja a vassoura que trazia, por muito que as condições pareçam precárias porque de tanto tempo deitada já me doía o corpo, o que importa é que haja quem nos trate e nos acompanhe.
Mais importante que a aparência é o conhecimento.


Voltei com um CD e tudo, a intervenção foi filmada dentro da pele.
E tenho um souvenir da Geórgia, como dizia a minha amiga Jennifer de Casterlé, uma cicatriz que me vai acompanhar até ao fim da vida.


Escrevi um mail ao médico a dizer que estou muito melhor; ele respondeu feliz.
Sempre fui a única portuguesa que tratou :)
E assim, graças a uma intervenção ultra-moderna, pouco invasiva, estou em Istambul com a turma do Mestrado a ver a Bienal de Arte deste ano.

Salaam, noor

Friday 9 October 2009

lisbon news 9: "in-between" Europe and Asia...nem sei exactamente onde estou (episodio 1)

(Este vem cheio de erros, porque não consigo por os acentos no ees...sorry)

Turca ou Georgiana poderia ser, porque em Istambul e em Tbilisi todos falam comigo em Turco ou em Georgiano :)
Definitivamente tenho sangue destas bandas, será Ásia, será Europa?

Esta zona geográfica e uma zona in-between, nem uma coisa nem outra.
Ontem perguntei a Ana, uma artista daqui da Geórgia, se eles são da Europa ou da Ásia.
Eles disse-me "somos caucasianos, mas penso que mais próximos da Ásia, nem sei bem".

Eu cá quereria ser da Ásia, mas entendo o conflito interior, a Europa parece um projecto mais concreto para abraçar.

Porque vim parar aqui? Para um evento de arte, o Artisterium 2009, que tem este ano a segunda edição.
E muito difícil montar uma exposição aqui; quando cheguei pediram-me perdão pela falta de condições, mas eu disse muito calmamente "eu já estive a trabalhar em África, sei que pode ser difícil".. mas e bom trabalhar assim! Se tivermos sempre tudo perfeito a nossa volta, nem temos oportunidade de criar.

Hoje as 10 horas, quando chegamos ao lugar de exposição, estava tudo por fazer. O espaço onde esta a instalação que vim montar, um museu de Historia da Cidade, esta em obras! O espaço esta com o chão destruído a vista, portanto o pó abunda la dentro.
As senhoras que estavam a esfregar o chão, depois resolveram limpar as escadas e os corredores onde circulamos...em vez de limpar de dentro dos espaços de exposição para fora, fizeram o oposto...As meninas que trabalham no museu em vez de nos virem ajudar com as montagens, ficaram na sua sala a fumar e a conversar muito entretidas.
Entre isto e a Ilha de Moçambique, praticamente não vejo diferenças, mas eu ADORO estas coisas!

Estou aqui em representação de um curador, o Shaheen Merali, que trouxe uma exposição de 3 vídeos.
Foram muito apreciados. Foi chegar ao museu, montar e abrir. Tudo hoje. E correu bem, tive de falar para a TV e tudo!

Ontem voei de Istambul para aqui. Estou do lado de la do Mar Negro.
Aqui a paisagem e muito verde, as casas muito cinzentas, esta muito deteriorado tudo..taditos, isto e muito pobre.

Mas este festival de arte e completamente internacional. E e o único evento de arte contemporanea do ano inteiro.
Arriscaram fazer e estão a encher os equipamentos disponíveis (poucos) com exposicoes muito boas.
Ainda bem que vim: conheci a Evelyne Jouanno, que trouxe a "Emergency Biennale" www.emergency-biennale.org .. fantástico.
Por favor ajudem este projecto a vir a Portugal!
Conheci a Sylwia Narewska, curadora da Polónia, que trouxe vídeo do pais dela. Conheci o Charles Merewether, curador da Bienal de Sydney em 2006 e que adora lugares como o Geórgia ou o Cazaquistão. Infelizmente não assisti a conferencia que ele deu, porque cheguei tarde demais.

A exposição tem dois curadores principais: a Magda Guruli, que foi quem me pediu desculpa pelas condicoes do pais e o Iliko Zautashvili, que foi buscar-me ao aeroporto e integrou a Emergency Biennale com um trabalho dele.

E um lugar parado no tempo, mas as pessoas estão a tentar fazer coisas aqui. E lindo ver que saíram para os EUA ou Europa mas voltam para tentar mudar o panorama do pais. E o mais cómico disto tudo e que me falam sempre em Georgiano. Assumem que sou de cá.

Quando encontrar internet outra vez conto mais coisas e mando umas fotos.
Para já o que vi foi o museu em obras (estive la dentro das 10 as 20 horas) e o local onde fui jantar.

Mas digam-me la: isto e por definição, que continente, que eu estou baralhada?

Salaam, noor

Thursday 1 October 2009

lisbon news 8: cultura em alta, é a rentrée


Esta cidade linda, Lisboa, está de novo encantadora.
Eu absorvo tudo o que posso, o que não é fácil, já que a oferta tem sido tanta e tão diversificada.

Foi a Experimenta Design, que além de nos revelar mais um palácio fantástico, o dos Brammcamp, ali para os lados da Rua da Rosa, misturou Vista Alegre com artistas de graffiti (bem perto da Rua de O Século), nos ofereceu um novo projecto para o Jardim de Santos, e trouxe Design da África do Sul, Índia, Reino Unido e Portugal (no Museu do Oriente) além de projectos tangenciais desenvolvidos pelos nossos Designers.

Foi a Galeria Filomena Soares, que nos trouxe a dupla fantástica Dias & Riedweg, com projecções de vídeo espectaculares. Os artistas usaram Lisboa para continuar o seu mais recente trabalho, que mistura cidades tão diferentes como Nova Iorque, Bruxelas ou Lisboa e mais cidades se seguirão (ainda está aberta ao público, não percam esta exposição da dupla do Rio de Janeiro cujo trabalho foi mostardo nas mais prestigiadas bienias de arte de todo o mundo).


Mas o que quero dizer aqui é ainda uma outra exposição a não perder: "Encompassing the Globe", no Museu de Arte Antiga (MNAA) até ao dia 11. Vão depois de votar, ok?
Lá, pasmem-se, está um atlas pintado à mão de enormes dimensões, todo decorado a ouro; peças lindas em forma de camelo, avestruz, ou ouros animais fantásticos que, sabe-se lá porquê ou como, se encontram em prestigiados museus da Alemanha, Inglaterra ou França, e todo o Ultramar português está representado. Tem uma secção da Índia, outra do Sri-Lanka, outra do Japão, outra de Macau, outra da China, Brasil, África Portuguesa...se gostam de viajar pelo mundo e pelo passado, vão ver.
A EPAL fez um apoio mecenático ao MNAA e recuperou a famosa Custódia de Belém, que brilha em todo o seu esplendor. Eu tive direito a entrada livre :)

Estive este ano todo maravilhada a ver exposições em todo o lado; este foi o ano das capitais da Europa. Foi Londres, Madrid, Amesterdão, Budapeste e Viena. Agora vou a Istambul, Tbilisi e Jerusalém. Em fins de semana prolongados pode ver-se muita coisa.

Estou fascinada com a ideia de ir a Istambul com o Mestrado ver a Bienal de Arte mas também ver a cidade que divide a Europa da Ásia. Dizem que é linda, diversificada, multicultural, multiracial. Jerusalém também me está a empolgar, por ser sagrada, por ser um enclave de civilizações e representar o berço das três religiões reveladas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo).

Claro que vou contar a viagem! Vamos ver como é o acesso à internet...

É um encanto estar em Lisboa quando nela se concentra tanto conhecimento.
Basta aproveitar. É o que tento fazer. Além de ver o que há, gosto de mostrar o que temos, o que somos. Todos os estrangeiros que vieram a Portugal este verão e me contactaram viram o Aqueduto das Águas Livres, um pouco da cidade que se desenvolveu em redor de um estuário de água salgada, e a todos mostrei coisas variadas como o Cabo da Roca, Sintra, Évora, Comporta, Tróia...

Acredito que temos cultura demais. Por isso a desperdiçamos.
Eduardo Lourenço falou de um complexo identitário português que nasce de um excesso de identidade. Este excesso inferioriza-nos porque vivemos na saudade de um passado largamente mítico.

Deixo-vos a voz da Cesária com a "Sodade"

Esta é definitavamente, uma rentrée! E há muito muito mais.

Salaam, noor

Tuesday 14 April 2009

lisbon news 7: arte contemporânea em lx - só não vê quem não quer, oferta há, muita e de qualidade!

Esta cidade não pára! Anda num ritmo louco, eu bem tento acompanhar, mas nunca conseguiria!
Tenho ido ver muitas coisas e agora, que achava que a Primavera já tinha trazido tudo o que havia para trazer, dia 18 abrem cinquenta mil exposições por causa da LISBOARTE! 
Eu vou começar já no dia 16, na Galeria 111, que tem duas exposições e que começa mais cedo do que as outras. 5as feiras é aquele dia clássico, não é?

Pois bem, algumas das coisas que vi já acabaram, mas esperem reposições!
Fui ver uma peça de teatro em Almada, "Dois Homens", de José Maria Vieira Mendes, no Teatro Azul, um espaço desenhado pelo Graça Dias e que é um must. O Curador do evento, o Mário Caeiro, foi ao detalhe; espalhou frases kafkianas por todo o lado, iluminou tudo em vermelho..estas coisas ainda são mais giras quando temos "uma visita orientada", como eu...eheheh
No Teatro Azul conheci o João Abel, que me convidou a ir ao Teatro Nacional D.Maria. Fui ver "Esta Noite Improvisa-se" e adorei. Apesar de estar estafada, a peça conseguiu manter-me atenta! Encontrei o Rui Calçada Bastos - que conheço de Macau. Está prestes a abrir uma exposição individual na Appleton Square, em Alvalade! É dia 22 de Abril.

African Screens: este evento começou tão bem, tão bem. Para já levei o Sr. Director do Museu da Ilhaok de Moçambique comigo, e ele adorou. Fomos ver o primeiro filme que os Curadores, Manthia Diawara e Lydia Diakhaté, que conheci no Mestrado, escolheram. 
O filme foi um espectáculo: para mim que já estive em Moçambique, este filme de Cheick Fantamaday Camara foi muito muito bem feito. Um brilhante retrato da África contemporânea. 
No fim, eram palmas, palmas ao realizador, curadores, ao Professor Fernandes Dias, foi emocionante!
Há mais AFRICAN SCREENS no São Jorge neste fim de semana! Vão, não percam!!!! Mando o Programa!

Manthia Diawara disse no seu curto discurso 
" You don't have to look for Africa in Africa; you don't have to look for Europe in Europe. 
Africa is in Europe; Europe is in Africa. We want to break this wall."

Entretanto, com tantas aberturas que tenho ido, conheci o Gabriel Abrantes, "Super Star", como eu lhe chamo, a brincar e ele ri-se imenso, é o máximo. O Gabriel vive nos EUA, foi lá que cresceu. E é um miúdo enérgico, cheio de vida, que curte Arte. Disse-lhe que era maquilhadora e ele perguntou se eu podia ajudar num filme. 
Mandou-me o argumento, "To many Daddies", eu li, achei genial é WOW, fui curtir umas make-ups!!!
O meu trabalho não é nada, o Gabriel até neve artificail trouxe dos EUA! Bem, aquilo é tão tóxico que eu fiquei fora da cena das filmagens, não aguentei! Mas maquilhei um índio...adorei fazer o índio.
Mando foto! O Gabriel está nomeado para o PRÉMIO EDP JOVENS ARTISTAS. 
A exposição está no Museu da Electricidade. Vai ganhar o prémio! Estou a fazer fé!



Entretanto o Edgar Martins ganhou o BES PHOTO!!! 
O meu colega de Mestrado António Mendes convidou-me para ir com ele e eu fui, claro. Eu liguei logo à Carina, a irmã!
Foi lindo vê-lo no placo, ao lado do Renato Berardo, do Ricardo Salgado e do Ministro da Cultura! 
Foi mesmo emocionante ouvi-los a falar de Macau!!!!
O Edgar é o Edgar, independentemente de Macau. Mas sim, admitamos que Macau tinha muitas coisas que faziam despertar consciências....



Na VPF Cream Art e Plataforma Revólver pode ver-se "A Escolha da Crítica". Os críticos escolheram, nós devemos ver o que eles nos sugerem para tendências artísticas de Primavera. Ainda lá está. Vão ver. 
www.vpfcreamart.com

A Ana Matos, minha colega de Mestrado tem uam galeria pequnina ams doce no Bairro Alto, mesmo ao lado do Suave. Chama-se "Salgadeiras" e vi lá umas fotografias assim qualquer coisa de inesperado......adorei, nunca ainda tinah conseguido ir, acho que acertei porque vi uma exposição com a qual me identifico imenso!

Na Arte Contempo, logo a seguir às Mulheres à beira de Um Ataque, vieram os Mineiros de Aljustrel! 
Na abertura da última exposição o Coral dos mineiros de Aljustrel actuou..ai aquele som tão característico, as vozes masculinas tão fortes, sabem com é?

Há mesmo muito que ver, a ZDB www.zedosbois.org/, abriu os estúdios dos artistas que ali fizeram residências durante 3 meses. O Gabreil está lá outra vez. É mesmo uma "Super Star", ahahah

Espero que tenham tido boa Páscoa e que gozem a LISBOARTE e o AFRICAN SCREENS....o convite está feito. E não se esqueçam que começa 5a com o Francisco Vidal, um dos jovens de talento!

Salam,

noor

Saturday 4 April 2009

lisbon news 5 - episódio 2 - Aqueduto das Águas Livres




Continuando com a nossa aula para crianças....;-)
 Eu adoro mostrar o Aqueduto; de facto a Bárbara Bruno deu-me uma formação tão completa e tão direccionada, que fazê-lo é um prazer!
 
O ritmo das visitas é alucinante desde que abriu...os meus pés, enfiados dentro de sapatos altos sofreram! É que andar em cima de pedra 1km para lá, outro para cá, 2 vezes por dia...taditos, pareciam os pés de makua que ganhei na Ilha de Moçambique! Conclusão: venham bem calçados quando vierem ao Aqueduto das Águas Livres (AAL)...
 
"Pois é, "Águas Livres", porquê?
Porque ninguém as puxa, ninguém as empurra...a água vem sempre a descer!
A gravidade é que a transporta!
Ora, porque é que este Aqueduto é tão importante?

1. Porque trouxe água para Lisboa, nomeadamente para a zona ocidental da cidade. O Rei D. João V tinha dividido a cidade em Lisboa Oriental e Lisboa Ocidental. A divisão física é exactamente a mesma que temos actualmente: Terreiro do Paço, Rossio, e por aí fora....
Na zona Oriental havia água. Sempre tinha havido.

Os chafarizes de Lisboa é que abasteciam as pessoas. Havia o "de dentro" e o "de Fora", que mais tarde se passou a chamar "Chafariz de El Rei".
Sabem porquê??? Porque o Rei D. Dinis (o Lavrador) ordenou-o pelas pessoas e mudou de nome à conta disso! Mais ou menos como a Ponte Salazar que agoraé a Ponte 25 de Abril. Neste chafariz as pessoas matavam-se umas Às outras e entâo o Rei dividiu as 6 bicas pelos diferentes grupos da Sociedade. Isto foi um GRANDE avanço!

Ora, no Chafariz de fora abasteciam-se as pessoas; no de dentro bebiam os animais e a água era usada para a agricultura, lavar roupinha, etc.
Nos meses de inverno, havia água; no verão a água era escassa. 
As pessoas passavam horas (HORAS!!!!) para irem buscar a sua quantidade de água diária.
Sabem quanta água UMA FAMÍLIA TINHA DIREITO POR DIA? UMA FAMÍLIA, EH?

6 LITROS! Sabem o que isso é hoje em dia? Uma descarga das nossas sanitas, quando temos 2 botões, consiste na mais reduzida!

6 LITROS POR FAMÍLIA! QUEREM SABER O QUE ISSO É? ENTÃO SE NÃO QUEREM, POUPEM ÁGUA!!!

Com esses 6 litros, NINGUÉM BEBIA ÁGUA! NINGUÉM TOMAVA BANHO! TODA A GENTE CHEIRAVA MAL! NÃO ERA O QUE SE CHEIRAVA, MAS O QUE SE PARECIA QUE CONTAVA. TINHAM DE ANDAR COM A ROUPA LAVADA. Como hoje, a imagem é tudo.......

As pessoas tomavam, em média, 3 banhos na VIDA!!! - Nascimento, Casamento e Morte.
Muita gente comenta o desperdício da água na morte e eu respondo sempre: A HUMANIDADE SEMPRE CUIDOU DOS SEUS MORTOS. Esperemos que isso nunca mude! O Casamento era o acontecimento mais importante da vida das pessoas.

Com os 6 litros de água diários:
. 1º lavavam a roupa íntima; a grande eram as lavadeiras. Sabem o filme da "Aldeia da Roupa Branca"?
. 2º com a mesma água, toda a gente, e isto era uma espécie de oração (como os muçulmanos rezarem 5 vezes por dia eheheh) lavava as mãos, a cara e os pés!
. 3º com a mesma água os homens faziam a barba
. 4º com a mesma água - já sujérrima, que horror... - lavavam tudo o que houvesse para lavar em casa!!! Pratos, copos, talheres, tachos, talvez o chão, as janelas...................UFA!
. 5º como se isto não bastasse, depois, esta água imunda, abriam a janela e gritavam " Água Vaiiiiiiiiiii" e mandavam a água lá para fora!

Conclusão: a esperança média de vida era de 35 anos, as ruas eram sujas, não havia esgotos, ou recolha de lixo (nesse tempo eram os cães vadios que tratavam do lixo) e os estrangeiros que vinham À CAPITAL DO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O PÁIS MAIS IMPORTANTE DO MUNDO, e chamavam à Capital, Lisboa, " A Bela Estrebaria" ou "Antecâmara de Magreb"! 

Isto não era um elogio!!!

A Praça do Comércio, à época Terreiro do Paço, era uma praça que cheirava mal das pessoas, dos animais, tudo! 
E o Rei D. João V devia estar farto daquela imundície, porque a casa dele era lá e resolveu construir um Palácio, à Versailles, em Lsiboa.
Era para ser na zona de Buenos Aires, onde fica a rua com o mesmo nome, mas ele, aconselhado, e bem aconselhado, ponderou e então, em detrimento do seu luxo pessoal, mandou construir o AAL!


2. O Aqueduto foi construído pelos MELHORES engenheiros de Portugal! Todas a nossa sabdoria militar com 300 anos de existência, e que tinha sido aplicada nos Baluartes que espalhámos no mundo fora (JÁ VOTARAM NAS 7 MARAVILHAS DE PORTUGAL NO ESTRANGEIRO? VOTEM!) foi aplicada nesta grande obra que é semelhante a um aeroporto dos nossos dias.

Ah grande Rei! Adoro o D. João V, não me canso de o admirar! Também, teve sorte: reinou 50 anos, entre 1700-1750, foi Absolutista (poder político, jurídico e executivo concentrados numa só pessoa) e era RICO!!! Havia-se descoberto o Ouro em Minas Gerais e ele patrocinou obras lindíssimas em todo o Mundo! No ano passado no Barroco do V&A, descobri que o Barroco atingiu a China, Pequim! Imaginem! 
Ah, a exposição do Barroco abre hoje! Vão a Londres visitar, deve ser linda linda, e nós estamos muito bem representados! Eu vou em Maio!

Hoje fui ver o Museu de São Roque, pertencente à Santa Casa e vi o que lá falta em exposição, por estar em Londres. Temos tantas coisas, tantas, para lá foi uma amostrazita....vão ver! E vão ver a Capela de São João Baptista, na Igreja de São Roque, que é colada ao Museu! Uma jóia! 

Pois é, os grandes engenheiros portugueses construíram esta obra de grande envergadura, o AAL, que a EPAL tem sabido manter, preservar, e mostrar. Venham que eu conto mais coisas.


3. O Alvará que permitiu que o AAL fosse construído foi assinado em 12 de Maio de 1731.
O rei Magnânimo ORDENOU que ele traria a "Agoa Livre", tivesse de passar onde tivesse (entenda-se, se houvesse uma casa no caminho, destruía-se e construía-se noutro lugar) e assim foi!

Em 1729 começou a cobrar-se o "Real d'Água" e em 1731 já havia dinheiro!
Cada vez que uma pessoa comprava um bem essencial - pão, carne, peixe, etc - pagava o "Real d'Água".
Não era o Rei que era rico, vivíamos ricos, em clima de grande propsperidade, mas toda a população MORRIA DE SEDE....


Com isto termino, porque de AAL, temos ainda muito muito para saber...tudo a seu tempo....
Venham visitar o Museu da Água, poupem água e divulguem estas histórias mirabolantes aos vossos filhos.
Mando fotografias em que podem ver a arcada, os meninos felizes na AAL e os nossos "babies"...há uma creche que praticamente todos os dias levam lá os bébes a passear no Aqueduto.


Salam, noor


Friday 27 March 2009

lisbon news 6: the "Other"....pode sentir-se em Lisboa!!!



Eu gosto muito do Oriente, todos sabem disso.
Cheia de saudades do Oreinte como eu estou, inscrevi-me num curso de Gamelão de Java no Museu do Oriente.
O curso é para compositores, mas a Professora, Elizabeth Davis, aceitou que eu "refrescasse" a memória porque já tenho o ouvido treinado. É tão engraçado, parece que estou nos teatros de sombras, a ouvir, lembro-me do Ramayana, dos momentos de drama, guerra, etc...e de facto foi uma boa ideia. Claro que demorei 4 aulas a entrar no grupo, mas eu nunca fui barra a música, muito menos tocando!
Amanhã temos espectáculo!!! Às 21.00 no Museu do Oriente!
O Gamelão de Java é muito lindo, com aqueles gongs todos....e gostava que viessem. Senter o calor da audiência, dizem que para os artistas de palco é o mais estimulante...contamos casa cheia, a entrada custa só 10 euros e garanto que é bom. Eu só toco 15 minutos, os Compositores meus colegas fizeram um grupo à parte e há ainda um grupo de cegos, para quem, como sabem, estes estímulos são muito importantes.
E porque não aproveitar, chegar mais cedo ao Museu do Oriente, ver a FABULOSA Exposição Individual do Edgar Martins, Topologies? Ele é um artista muito reconhecido já, tem esta individual de cair para o lado, uma outra no CCB, BES PHOTO, prémio para o qual está nomeado este ano.
Gostei muito do trabalho do Edgar, de o rever (porque ele também faz parte da tribo do Liceu de Macau, e a irmã dele, Carina Martins foi minha colega de truma desde o 5º ao 12º ano), mas o melhor de tudo foi ouvi-lo na visita de estudo que fez no sábado passado de manhã..o Edgar além de ser muito bom teoricamente (sempre foi, sempre foi), fala com uma suavidade e humildade contagiantes. As suas obras funcionam, disse ele, como "PLATAFORMA para a PERFORMANCE do mundo"; as suas fotografias nascem a partir do ESCURO, o que é muito interessante, porque a fotografia vive da LUZ. www.edgarmartins.com/
E porque não aproveitar, e ver o Museu do Oriente, que por acaso é gratuito 6a feira, entre as 18 e as 22, quando encerra?
Como se não bastasse de Oriente, depois do Edgar, fui ao Martim Moniz comprar material para os meus alunos no Museu do Oriente, proque o workshop já está confirmado. É pashminas, lenços, é aquele cheiro de indianos, incensos e especiarias naquele Centro Comercial... Bem sei que é díficil gostar, porque a nossa pituitária não os identifica como nossos, mas é uma experiência sensorial forte!
A seguir fui comer um Biryani de Camarão no Centro Comercial em frente; já tinha ouvido dizer que é o melhor de Lisboa. Tão bom, tão bom, só falharam porque não tinham cerveja Cobra (indiana), que eu adoro.

Bem, deixo-vos com uma novidade fantástica: abriu o lisboayoga, uma escola que foi fundada pelo meu colega de Mestrado na Gulbenkian, António Veiga Pinto, com vista de rio e ele, como sabe que eu opratico, convidou-me a ir assisitir a uma cerimónia Puja!
Puja é uma benção de um espaço, como o Fong Soi (para os macaenses), Feng Shui (para vós) fazia. Mas em vez de aqueles dragões, a presença mais sentida foi a de Ganesha, Deus com cabeça de elefante bebé, corpo de criança...sabem qual é, óbvio. http://www.lisboayoga.com/
O mais incrível é que vivem por cima do atelier do meu amigo de Macau, o Arquitecto Ricardo Moreno, que vai com certeza, entrar numa nova fase da sua carreira...lindo!
Ora Ganesha, é o Deus que remove os Obstáculos do nosso caminho.
Por isso, orem a Ganesha sempre que vos for necessário, mesmo que não sejam Hindus (eu não sou).
Salam,
noor
PS. Os outros núcleos do Museu da Água, para breve..e se precisarem e quiserem vir visitar o Aqueduto ou a Mãe d'Água, ou as Nascentes, fico muito contente. Mas visitem também os outros museus e galerias. Estão cá para vos servir.